domingo, 6 de dezembro de 2009

Navalha, ou Um Conto de Primavera

Corria alegremente pela ciclovia. Seu cabelo loiro ondulava no vento que o movimento causava. Sua pele branca, avermelhada em vários pontos, devido ao esforço maroto, descompromissado, contrastando com o preto do metal de sua bicicleta, velha mas ainda utilizável. Era um domingo de primavera. A então ciclovia era na verdade o corredor central dos ônibus, que no final de semana ficava livre para área de lazer. A faixa de concreto pululando de vida humana. Humanos. Com bicicletas, com patins, com skates, com patinetes, ou até mesmo a pé. Pares de olhos, orelhas, braços e pernas, aqui e ali, às vezes se chocando, mas nada grave.

A brisa era deveras agradável. O dia estava levemente nublado, mas ainda assim com um pouco de sol, um pouco de vento, um pouco de calor.

Então desistiu de andar de bicicleta e saiu da ciclovia, encaminhando-se para casa. Passou, porém, antes, num mercadinho para comprar alguns suprimentos básicos, pois morava sozinha. Almoçou, e atirou-se em sua cama após a refeição.

Então ouviu um grande estalo e as parecem começaram a se encher de rachaduras. Começaram a quebrar. A cair, e seu apartamento junto com ele. Era o 19º andar, não havia escapatória.

A última coisa que ela viu foi a navalha em cima do criado-mudo.

Ah, como é bela a primavera.

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